Poucas castas têm a particularidade tão irritante de serem capazes de dar corpo a alguns dos melhores e piores vinhos de Portugal. Amada e detestada, é uma casta de extremos, uma casta difícil, uma casta caprichosa, a responsável maior pelos vinhos da Bairrada. É na Bairrada que assume o maior protagonismo, uma ditadura de quase exclusividade nos encepamentos, um domínio absoluto na área plantada que se aproxima dos 90 por cento.
As Beiras e o Dão também lhe dão particular relevância, e a Baga não se esquiva a algumas incursões esporádicas na Estremadura e Ribatejo. O Dão, esse, reserva-lhe quase metade da área plantada, números raramente reconhecidos e autenticados, percentagem em queda acentuada ao longo dos últimos anos. As sinonímias são variadas e, por vezes, curiosas. Assim, a Baga é igualmente reconhecida como Poeirinho, Tinta da Bairrada, Tinta da Baga e Baga de Louro. A referência constante ao nome “baga” percebe-se na pequena dimensão do bago, que recorda as bagas de frutos selvagens. É uma planta vigorosa, de produção generosa, produção que necessita de moderação activa para manter a qualidade do fruto e a perfeita maturação dos cachos. É uma casta sensível, extremamente susceptível à podridão. Os cachos apertados sem arejamento, combinados com a delicadeza da película da uva, tornam-na num excelente aspirante à podridão.
Plantada na Bairrada, em pleno clima oceânico, sofre de forma cruel as provações das primeiras chuvas de Setembro. Vindimada demasiado cedo dá origem a vinhos excessivamente herbáceos, verdes, rudes, aguados, vinhos que de tão taninosos e adstringentes nunca chegam a suavizar num eterno crescendo de desarmonia. São estes vinhos que destroem a reputação de toda uma região. Com boa fruta, com boas maturações, em anos secos, a Baga pode dar origem a vinhos de cor profunda, com fruta de bagas silvestres bem definida, ameixa preta, taninos sólidos, acidez mordaz e, curiosamente, notas de café, erva seca, tabaco e fumo… e são estes os grandes vinhos da Baga!